quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Revólveres MAGNUM - uma criação de Elmer Keith


Revólver Freedom Arms SM-97 em calibre .44 Magnum
Por: Francisco Pinto

Os revólveres em calibres Magnum são apreciados por muitos atiradores brasileiros, principalmente pelos chamados "revolveiros", os aficionados ou poderíamos até dizer "tarados" por revólver. São a máxima expressão do revólver, com tamanho avantajado, potência de sobra e impressionante beleza expressa nos diversos modelos fabricados, como pode ser visto no Freedom .44 Magnum da foto acima. O que poucos sabem é que o conceito Magnum tem paternidade reconhecida. Assim como tudo no mundo das armas, há sempre uma mente brilhante por trás de modelos, calibres, táticas, técnicas e outras invenções. O mundo das armas também tem história e cultura própria, o que aqui em nosso país é raramente lembrado. Cresci bem próximo desse mundo das armas e me orgulho de ter tido ídolos bem diferentes de meus amigos de escola. Enquanto esses veneravam Beatles, Rolling Stones, Black Sabath e outros, meus ídolos eram John Moses Browning, Rex Applegate, Jim Bowie, Jeff Cooper, Jack Weaver e demais grandes nomes que promoveram a evolução das armas e das suas técnicas de uso. Por conta disso, sempre que falo de uma ou outra arma, gosto de citar quem foi responsável por essa criação. 

Elmer Keith   (1899-1984) 

O pai dos Revólveres Magnum foi um estancieiro norte-americano do Estado de Idaho, atirador, especialista em armas, escritor e caçador chamado Elmer Keith. E foi a paixão pela caça, em especial com uso de armas curtas, que levou Elmer a pensar e desenvolver os calibres Magnum. Hoje, a caça com armas curtas encontra milhares de adeptos no mundo todo, entretanto na época de Elmer poucos eram os caçadores que se propunham a usar uma arma desse tipo. A caça com revólver ou pistola é por si mais trabalhosa e difícil, o caçador precisa se aproximar mais da presa do que quando com um rifle, aumentando o risco de que essa fuja ou o ataque, somado a isso não existiam calibres de armas curtas com potência para caça maior, como para ursos, búfalos e mesmo javalis de grande porte. Elmer tinha que concentrar seus esforços na caça de antílopes, os Deers da América do Norte. Mas sua paixão pelo Big Game, a caça pesada, fez sua criatividade e habilidades de armeiro e especialista em recarga trabalharem para romper essa limitação das munições pouco potentes. 

Elmer caçando com um Smith & Wesson Model 29

O primeiro calibre a trabalhar no conceito magnum, foi o .38. A ideia era criar um .38 mais potente. A princípio, em armas da época com construção mais robusta, usou recargas bem além das cargas normais do que os cartuchos de fábrica. Depois, como tinha acesso e bom relacionamento com a direção da Smith & Wesson, conseguiu que essa empresa desenvolvesse modelos de armas especialmente desenhados para as pressões do novo .38, denominado .357 Magnum, cujo calibre real era o mesmo do .38, tendo apenas seu estojo mais longo. Com isso, as armas novas poderiam ainda usar munição .38, pois esses cartuchos cabiam em seu tambor, entretanto o contrário era impossível, o .357 Magnum não cabia nos revólveres desenhados apenas para uso de .38. O primeiro revólver .357 Magnum foi produzido em 1935, o Smith & Wesson Model 27. Uma arma capaz de abater os Deers, Mule Deers e Javalis de médio porte norte-americanos. 

Smith & Wesson Model 27, o revólver .357 Magnum original

Alguns anos mais tarde, ainda em busca de maior potência, Elmer estendeu essa ideia inicial ao calibre .44 Special, criando, também em parceria com a Smith, o primeiro revólver .44 Magnum no ano de 1956, o Smith & Wesson Model 29. Agora Elmer poderia abater qualquer animal da fauna de seu país, inclusive seus Búfalos, grandes Javalis e Alces. Entretanto o revólver não foi um grande sucesso de venda. Os atiradores e policiais não estavam acostumados com tanta potência numa arma curta. O mercado de armas de segunda mão se inundou de revólveres .44 Magnum dos quais seus donos desistiram, por acharem muito exagerado seu recuo ao atirar. Parecia que seu público alvo seria restrito aos caçadores.  

Smith Wesson Model 29 de numeração 31, feito especialmente para Elmer Keith


O cinema se encarregaria de mudar o perfil dos compradores do Modelo 29. Em 1971, Clint Eastwood encarnaria o personagem do oficial de polícia Callahan, o Dirty Harry, que usava justamente um .44 Magnum. O sucesso de público que transformou esse filme num clássico, também em clássico transformou o Modelo 29. Todo policial, atirador, caçador etc, queria ter um .44 Magnum igual ao de Dirty Harry. Assista a cena abaixo, com certeza também você terá vontade de possuir um Smith Model 29. 

 

A última criação de Elmer e Smith Wesson seria o .41 Magnum, desenvolvido a partir do .41 Long Colt. Esse calibre Magnum é muito pouco conhecido no Brasil, aqui podemos chamar até de calibre exótico, que seria o meio termo entre o .357 e o .44 Magnum. Foi lançado em 1963 e mesmo nos E.U.A. não obteve muito sucesso, terminando como o Magnum menos popular. Seu revólver original foi o Modelo 28, chamado Highway Patrolman (Patrulheiro Rodoviário). 

 Patrulheiro Rodoviário com o Model 28 em .41 Magnum

O conceito Magnum foi além dos lançamentos de Elmer, nos anos 1950, Dick Casull desenvolveu, a partir do clássico .45 Long Colt, o calibre .454 Casull, que assim como os Magnuns de Keith, poderia usar munição .45 Long Colt e também o .454 Casull. As fabricantes Freedom, Ruger e Taurus fizeram excelentes armas para esse calibre, que é mais potente que o .44 Magnum e ótima opção para caça pesada. 



Outros calibres Magnum, chamados Big Bore, e armas vieram em seguida. Dentre essas vale lembrar: o .50 Action Express, que é usado na pistola Desert Eagle, colocando também as pistolas no mercado de armas curtas para caça. 

Desert Eagle .50 AE

E o atual mais poderoso calibre de arma de mão, o .500 Smith & Wesson.

Smith & Wesson 500 Magnum

Quando pensava que nada maior que o 454 Casull poderia aparecer, a Freedom lançou um revólver em calibre de rifle 45-70 e, logo depois, a Smith & Wesson cria o S&W 500. Agora é esperar para ver o que mais o mercado nos reserva em termos de potentes armas curtas, que estão, na verdade, deixando de ser "curtas" e fugindo um pouco da proposta inicial de Elmer Keith. Ficando mais próxima de algo híbrido, que poderia definir livremente como Rifles de Mão. 

Para quem queira conhecer um pouco mais de Elmer Keith, que também fez história como escritor especializado em armas e caça, pode acessar esse link, onde encontrará em língua inglesa diversos trabalhos por ele escrito, vale a pena ler.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Snub Nose - O revólver compacto de cara nova

Smith & Wesson Snub 625 em .45 ACP

Por: Francisco Pinto

Os Snub Nose, numa tradução livre: "Nariz Arrebitado", são os revólveres compactos com cano de até três polegadas. Eles existem no mercado desde o final do século XIX, sendo que primeiro foram fabricados pela Colt, nos modelos Sheriff's Model e Banker Special. Esse estilo de arma busca uma melhor portabilidade, oferecendo maior conforto a quem a leva consigo, bem como facilidade de ser melhor oculta em sua roupa. Esse conceito inicial vem de uma necessidade que permanece atual até nossos dias. Quem é profissional de segurança e precisa portar uma arma de forma oculta consigo sabe o quanto é desconfortável usar uma arma grande durante o dia todo. 


Colt 1877 Sheriff's Model

Como o mundo das armas também está sujeito à moda, os Snub tiveram momentos de alta e baixa na sua história. Na década de 50 contaram, no mercado Norte Americano, com um impulso por conta da influência de dois grandes nomes das armas naquele país, Coronel Rex Applegate e Jonh Henry FitzGerald. Sobre o primeiro já tive oportunidade de escrever algo nesse Blog, Applegate foi um dos maiores especialista no tiro de combate do século XX. Já FitzGerald foi um preparador de armas e atirador de exibição. Por conta de suas habilidades extremas com uma arma, trabalhou para a Colt por quase trinta anos fazendo demostrações de tiro com seus revólveres. 

FitzGerald - em propaganda da Colt

A pedido de Applegate, que era grande entusiasta dos modelos compactos para uso na defesa e combate, John Henry desenvolveu um modelo customizado de Colt, transformando um Colt .45 New Service em um peculiar Snub Nose. A arma ficou conhecida como "Fitz Special". E os norte-americanos compraram Snubs feito pão quente. 

Colt "Fitz Special"

A febre das pistolas de grande capacidade de munição veio e os Snubs ficaram por um bom tempo esquecidos, até o final dos anos 80 e começo dos 90, quando novamente despontaram com uma boa opção de "segunda arma", principalmente para policiais. Nessa época a brasileira Taurus ganhou uma considerável fatia do mercado americano com a oferta de vários modelos de Snubs. Também no Brasil, nos anos 80, quando o cidadão ainda tinha o direito de poder se defender, com o apelido de Buldoguinho, os Snubs foram muito populares.  

Snub Nose Taurus

Novamente as pistolas ofuscaram os Buldoguinhos por bons anos, mas eles teimam em se manter atuais. Os fabricantes de arma estão dando aos Snubs uma "cara nova", criando versões com novas tecnologias, tornando-os mais modernos e até mais portáteis ainda do que já eram. Primeiro trouxeram as inovações das pistolas para o universo do revólver e a Ruger lançou o LCR, que usa polímero em sua estrutura, assim como as famosas semi-automáticas Glock e HK. Resultando numa arma mais leve e portátil. A Taurus a seguiu e colocou no mercado o modelo PLY, também com chassi em polímero. 


Ruger LCR em 9mm       e        Taurus LCY em .357 















E as inovações continuaram. A grande revolução ficou por conta da Chiappa, fabricante italiana do revólver Chiappa Rhino, cujo cano se alinha com a câmara baixa do tambor. Na foto demonstrativa perceba que onde deveria estar o cano temos uma barra estrutural, abaixo dela é que se encontra o cano. O desenho pode ser contestado em relação aos parâmetros estéticos adotados, mas esse revólver é o mais estável já fabricado no mundo. Seu recuo ao disparar é muito menor do que o de qualquer outra arma curta, por conta do alinhamento do cano com o punho do atirador. Além da posição do cano, a arma tem o tambor sextavado e não redondo, proporcionando a ela um perfil plano e mais delgado, facilitando seu porte.

Chiappa 200DS em .357


A última novidade, foi lançada em 2016 no Shot Show pela Kymber. A posição de seu cano é a tradicional, mas esse Snub adota o formato de tambor do Chippa. Por conta disso não seria inovação digna de destaque, não fosse a Kymber a melhor conceituada e tradicional fabricante apenas de pistolas em modelo 1911, o mais amado modelo dos norte-americanos. Seria algo como termos o Rolls Royce das pistolas curvando-se em reverência ao bom e velho Snub Nose. 

Kymber K6s em .357